Trivialidade suburbana
- Por favor, socorram a minha filha! – gritava a mãe desesperada, numa rua
movimentada da zona norte do Rio.
Uma criança, aparentando pouco mais de dez anos, cai no chão. Outra vítima nascia através do ventre da rotina carioca. A correria foi generalizada. Enquanto a maioria procurava uma forma de se esquivar (ou se esconder) dos tiros, a mãe, solitária em angústia, cuidava de sua cria.

Uma criança, aparentando pouco mais de dez anos, cai no chão. Outra vítima nascia através do ventre da rotina carioca. A correria foi generalizada. Enquanto a maioria procurava uma forma de se esquivar (ou se esconder) dos tiros, a mãe, solitária em angústia, cuidava de sua cria.
- Me ajudem pelo amor de Deus! – continuou a suplicar.
Ninguém ouvia. Os policiais estavam do outro lado, duelando com os traficantes; as pessoas mal escutavam os próprios pensamentos e só tinham um objetivo: fugir daquela situação.
- Tudo bem, mamãe. Eu vou ficar boa – sussurrou a menina.
Uma pequena poça de sangue se formava no asfalto irregular. A mãe não podia tirar a filha dali, porque tinha medo de causar uma lesão ainda maior nela. “Não sei se a bala atingiu alguma área frágil”, indagava o instinto maternal. O tempo seguia a sua trajetória e o choro de agonia aumentava. Era possível sentir o cheiro de pólvora da guerra urbana.
- Você é linda, meu rebento. Mamãe vai cuidar de você.

- A ajuda está vindo, minha menina!
Lágrimas misturadas com euforia tomaram conta do momento. Os rapazes chegaram para ajudar. Enquanto a mãe se levantava e pegava o celular de um deles para ligar ao hospital, a menina, que antes tremia, não esboçou mais nenhum movimento. Era tarde demais.
- Abra os olhos, queridinha! – gritou a mãe, batendo forte no rosto da criança.
Não havia pulso. A garotinha estava morta, mergulhada em seu próprio sangue. Todas as possibilidades de uma salvação foram descartadas. Aquele pequeno corpinho não sugaria mais oxigênio. Uma hora e meia após o término da batalha urbana, o coronel envolvido no

Tudo se resolveu. Do lado da imprensa, a manchete estava garantida; a policia havia cumprindo o seu papel e o “dia estava salvo”, ao passo que outra criança entrava para uma triste estatística.
- A minha menina era inocente, seus desgraçados! – berrou a mãe, ignorando uma premissa interessante e cruel: “as balas perdidas nunca atingem um culpado”.
35 comentários:
eu nunca reparei nessa premissa.
se a bala fosse 'certa' atingiria um culpado, quem ela 'deveria ' atingir.. uma bala perdida não é assim chamada porque pode matar um inocenten, mas somente porque não foi 'aproveitada' matando um culpado, um bandido ou um policial. nessa cidade onde uma linha tênue separa mocinhos e bandidos e onde as vezes eles estão misturados fica difícil saber quem a bala 'deveria' realmente acertar. e pela nossa ótica distorcida é assim que a gente define bala perdida, como bala desperdiçada e não como instrumento para matar.
beijo.
Triste realidade!
Casos assim assistimos, de mãos atadas, diariamente...
13 balas certeiras e uma "perdida".
Ué?! Se era perdida por que acertou a menina?!
14 balas certeiras...
O dia tá ganho!
=/
Beijão Paulo!
Paulo... você acabou de me fazer chorar. Já vi uma cena assim, afinal a realidade de Recife não é lá tão diferente da carioca...
Você me desarmou e agora eu não sei mais o que comentar.
Ninguém poderia ter escrito de uma forma melhor. Não mesmo.
Tão triste que seja assim......
beijos e bom feriado
MM
Acontece às vezes
O que eu posso dizer? Que 'é triste essa realidade'? Ou 'o governo deveria fazer alguma coisa pra acabar com essa violência'? Essa retórica cansa... Falar, comentar, reclamar infelizmente não resolve as coisas. Acho que a única coisa que se pode fazer é esperar e cuidar para que as gerações futuras tenham uma consciência diferente da nossa. Isso sim é que é triste...
Como sempre, Paulo bem direto e realista, um tanto quanto dramático também. Mais um excelente texto.
Mas o que aconteceu com os textos do Paulete que só tenho visto sangue ultimamente?
Tá vendo, agora você não pode reclamar: eu comentei. :)
Abraços!
Este é um certificado de amizade.
Se eu pudesse agarrar um arco-íris
Eu o pegaria só para você
E compartilharia com você a sua beleza
Nos dia em que você se sentisse triste
Se eu pudesse construir uma montanha
Você poderia chamá-la de só sua
Um lugar para encontrar serenidade
Um lugar para estar sozinha(O)
Se eu pudesse pegar seus problemas
Eu os jogaria no mar
Mas todas estas coisas em que eu estou pensando
São impossíveis para mim
Eu não posso construir uma montanha
Ou pegar um belo arco-íris
Mas deixe-me ser o que eu sei de melhor
Uma amiga que está sempre por perto
...DE SI...
As vezes eu nem sei mais a definição de humanidade, de verdade e de mínimo. Quanto mais pensamos que de tudo já lemos, sentimos e vimos, no outro dia....ah! no outro minuto é passado que te passa a perna...(deprimente as nossas leis)
beijos e obrigada pelo comentário no meu blog
super semana
Ly
As estatísticas aumentam todo dia no Rio. Uns casos caem na mídia, outros passam sem ninguém perceber.
Todos os dias inocentes vidas são destruídas por causa de uma guerra imunda que não tem data para acabar.
Quem tem que morrer, não morre. Nem sequer vai preso.
E quem tem a vida inteira pela frente, quem tem bons planos, boas idéias e boa alma, são cruelmente postos em estatísticas e esquecidos em arquivos mortos.
Infelizmente é o que estamos vivendo todos os dias e não importa a cidade...as cenas são as mesma.
Beijos
o pior de tudo é que essas balas nunca são perdidas... sempre encontram alguém.. nunca um bandido ou policial (que faz às vezes de bandido...) sempre um inocente... lastimável
abraços
Realmente é uma triste realidade, infelizmente, mas como sempre muito bom o texto prende a atençao sempre...
Abraços
Nossa, já está virando como que um hábito essa história de bala perdida, e o pior é que estamos nos acostumando com isso, quando na verdade deviamos é estar gritando nas ruas por mais e melhor segurança.Você escreveu muito bem o texto, como sempre.Um beijo e lindo restinho de semana!!!
ogabiIncrível, meu caro. Quando criança, eu só me preocupava com balas de menta, fruta, caramelo... Mundo mudado,
Abraço
Brunø
Como todos estão comentando, é algo muito triste e mais triste ainda é o que eu vou dizer: já está sendo algo normal. [como assim isso pode ser normal, né?!] ainda mais onde eu moro =/
- - -
Menino, é mesmo né, ninguém deve entender porque eu quero tanta roupa de frio no RJ hahahaha
Mas é que eu costumo ir pra sp e mg e ainda por cima eu estudo perto da praia... =P
Bjos, vou linkar seu blog que é mto bom!
.
é impressionante como se tornou trivial ler notícias com a dada depois da morte da menina. virou cantiga de ninar, de tanto ouvir nem prestamos mais atenção e por isso dormimos tranquilos...
coisas da vida. questione a [in]Justiça quem tiver bons argumentos.
abraço
valeu pela visita ao blog, volta lá, valeu!
.
Enquanto balas estiverem perdidas no nosso espaço estaremos igualmente perdidos e os culpados livres do perigo, cena triste, dor desgraçada, maldita guerra em que vivemos.
carinho meu nessa noite
beijosssssssssss
Oi querido!! Antes de mais nada, muito, muito, muito obrigada pelas palavras viu.
Quanto ao post, realmente triste e parece que piora a cada dia, não se está seguro nem dentro de casa, as vezes penso que no futuro, se continuar como está, nós é que vamos viver em presídios. Não consigo achar normal, inocentes morrerem no lugar de bandidos, muitas vezes pela arma da policia.
E toda vez eu pergunto a mesma coisa: onde está o pessoal dos direitos humanos que não faz barulho pra defender esses inocentes que vivem ameaçados até dentro de casa?
Desculpa, melhor parar que já tô me empolgando...
Beijão no coração!
É Paulo, bala perdida, vida perdida...
Acabamos por virar mais um número: sempre.
Beijos!
Realidade triste do nosso dia a dia, continuo a me perguntar: QUE PAÍS É ESSE?
Texto impecável!
Beijos e um ótimo restinho de semana.
ah que isso!
a lua fo a coisa mais linda... muito mais linda do que meu bloguinho.
me pergunto se as pessoas param para vê-la. que bom que encontrei algumas que o fazem!
beijo!
Triste
e não devia acontecer
não podemos deixar acontecer!
beijos
E as balas achadas nunca acertam um inocente.
Se eu atirei e matei, se culpado for, fui eu, se inocente for, perdida a bala foi.
Perdido foram meus valores.
Sou mais um, de acordo com as estatisticas.
triste e revoltante...
como a realidade eh cruel neh?
a imprensa fria..
q horror!
Olá!
Tema difícil, texto muito bom. Última frase muito boa.
Obrigada pela visita; adorei teu blog, principalmente as músicas e filmes ali do lado. Achei diferente e muito criativo!
Muito bom mesmo! Tô te linkando, ok?
Bjos!
Ps. Esqueci de me despedir!
Triste realidade!!
Gostei do teu blog, voltarei.Bjoss!!
Triste a história... mas imagino que real...
triste... e o pior é que ficamos nos sentindo impotentes diante de tanta violencia né... =/
Muita sensibilidade no seu texto Paulo, abordou tema tão dolorido, de uma forma muito simples...
É uma pena isso estar tão comum assim no Rio. Pobres garotinhas... garotinhos, mães, jovens...
Beijos Paulo!
Um inocente vale menos que treze culpados...?
Bjs!
Triste realidade essa nossa, Paulo, cada dia pior. Nós, cariocas, estamos perdendo as esperanças..
Se puder me faça uma visita..
Abraços e tudo de bom..
Olá
Triste história mas faz parte da nossa realidade...
Um Abraço
Infelizmente, nosso país está se acostumando a achar uma história dessa mais uma triste realidade dos nossos dias.
Somos reféns de nos mesmos. Talvez se fosse comigo passando eu não pararia ou ou pararia para ajudar. São situações complicadas e muito dificeis de serem resolvidas. Que somente investindo na educação e na saúde isso "poderia acabar".
Violêcia niguém esta livre dela.
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