terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Por enquanto...

“Mudaram as estações. Nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente...”

Legião urbana

Tudo se transforma. A natureza foi esperta ao se auto programar. Na dinâmica da cadeia alimentícia, o melhor sobrevive, tem o direito de entrar pela porta frente e não se preocupar com os fundos da casa. Mas a questão não envolve esperteza apenas. As árvores não sentem falta das flores ausentes quando estas caem quando devem cair.

Cássia Eller

Até então imutável. A origem, o passo inicial é o último dos primeiros aspectos de uma evolução necessária. Deus fez a pedra; o homem, a pedra lascada, a lixa, o lixo, as armas... desenvolvimento. Somos imagem e semelhança Dele? Bela lógica, embora, às vezes, a finalidade não seja tão “interessante” quanto se supõe.

Capital Inicial

Ao lado do destino, escolhas; ao lado das escolhas, dúvida; ao lado da dúvida, pureza. Amém. Sabemos disso do mesmo jeito que a semente sabe que o solo é seu aconchego; do mesmo jeito que o pássaro aprende a tecer meticulosamente o seu ninho. Assim, “estamos indo de volta para casa”, independente das escolhas ou estações. A repetição repetitiva não precisa ser igual.

Vanessa da Mata

domingo, 23 de novembro de 2008

Toque divino

A porta entreaberta denunciava o que estaria por vir. Tocou lentamente nos mamilos, deixando os dedos anelar e médio contornarem a aureola dos seios. Era um costume antigo. Desnuda diante de si mesma, ela sentia-se bem. Enquanto tocava-se imaginando não imaginar nada, absorvia uma cumplicidade divina emanada pelo silêncio. Mas a porta rangeu.

O vento estragara a possibilidade de um deleite ainda mais profundo na frente do espelho. Os pêlos arrepiados pelo auto prazer reverenciavam, aos poucos, a pele sedosa que protegiam. Laura fechou a porta e a trancou pelo lado de dentro.

A calcinha vermelha estava bem confortável. Os detalhes em miçangas e um bordado especial nas extremidades do tecido davam um toque de requinte ao que se bastava.

Havia fogo escapando pelas dobrinhas da virilha. Laura abaixou-se vagarosamente, empurrando sua calcinha para o chão. Dava pra ver uma sombra embaçada de seu rosto pelo anel folheado a ouro que tinha no dedão da mão esquerda. Ela era destra. Usou as duas mãos para facilitar a retirada da veste íntima que cobria sua delicada buceta. O clitóris extrovertido refletia o que Laura sentia interiormente. O fogo alastrou-se.

Uma parte do sofá estava ocupada por objetos velhos que tinham sido remexidos no dia anterior. Ela jogou tudo em cima da mesa de centro, sentou-se afastando as pernas o suficiente para que o dedo indicador pudesse ter a liberdade na região do períneo. Estava esticada, mas não muito. Não apagou nenhuma luz, tampouco as chamas de si. Ao mesmo tempo em que experimentava o tato do prazer materializado em líquidos claros e consistentes, puxava o próprio cabelo, de maneira suave, punindo-se pelo desejo do orgasmo solitário. O dedo indicador entrou fácil no cú, auxiliado pela lubrificação natural que escorria aos mililitros de seu sexo. Pôs o segundo dedo no ânus. Ousou o terceiro. Desistiu.

As cortinas iam de um lado para o outro. O vento que soprara rangendo a porta dança, ao passo que Laura faz-se de violão: dedilha e escorrega, onde as notas musicais são expressas pelos gemidos tímidos em lá menor. Todo o corpo reage ao testemunhar seu momento sublime. Ela abriu mais as pernas para facilitar a penetração do dedo médio da mão direita na xota. Roubando o lugar de um homem, os suores percorriam os peitos suculentos e rebolavam sobre as curvas dela. Contração total dos músculos: cruzou as pernas tentando prender pra si todo o gozo do qual fugia há anos. Não conseguiu. Ela sujou muito mais do que a mão direita e os dedos anelar, médio e indicador. Haviam gotículas espalhadas pelo sofá. Fora de si, ela continuava lá. Mas a inocência não estava mais nela.

Entorpecida por todo o ocorrido, Laura levantou-se assustada, pegou o terço guardado em sua bolsa e pediu desculpas através de pensamentos. Ela não tinha lembrado de lavar as mãos. Logo depois tomou o banho mais leve de sua vida, colocou a mesma calcinha vermelha que usara antes da masturbação, pôs um vestido comprido por cima e foi para a igreja confessar-se. Ela era muito religiosa. E ainda é.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Não vendo

A texto abaixo é uma resposta ao post do dia 30 de janeiro
O que ficou pra trás não volta. Não acredito no amor em forma cíclica. Para mim, você não existe mais, virou átomo obsoleto. Até a poeira que respiro possui mais significado que as recordações onde sua figura é constante. Com relação ao Martini, só posso te dizer que as sensações causadas em mim pelo álcool foram e são infinitamente maiores do que quaisquer prazeres que um dia você pensou ter me proporcionado. Sabe, às vezes a solidão brinca de companheira só para se fazer de transparente e, com isso, ludibria-nos até o esquecimento da existência dela própria. Esquecimento este, para o seu pesar, mentiroso. Um aviso: curta a solidão enquanto estiver só, porque eu tive que aproveitá-la, amargamente, da pior maneira: contigo. Paradoxal? Não. Apenas triste. Desta vez eu não cuspo você, mas em você. Este sim será o único jeito de sentir novamente o gosto de minha saliva.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Eu pago

Olho para aqueles olhos e desisto de pensar no pior. Sou otimista, claro. Algumas vezes perco o raciocínio imaginando o sorriso cravado feito nuvens límpidas em sua face. Queria arrancar a esperança de nunca mais ter esperanças contigo. Você me faz mal, mas é um mal tão bom... Já acordo aguardando o momento que dormiremos juntos, agarradinhos, num oceano de loucuras livres em formato de conchinha. Você me aquece mesmo nas memórias mais frias. Distante? Sou simplesmente uma parte do que você cuspiu e largou entre a Av. Brás de Pina e o terceiro gole de Martini. Cuspa-me outra vez, porque se esse for o preço para sentir novamente o gosto de sua boca, eu pago.

Me descupem por tanto tempo de espera. Desta vez, voltei pra ficar!