quarta-feira, 5 de julho de 2006

Já aprendi dizer adeus

Derreteu-se o gelo polar. Mas esse iceberg ficava mais ao sul, pertinho do Oceano Atlântico. Novamente, o calor à base de combustível (leia-se Zidane) e comburente (leia-se falta de vontade do Brasil) foi o bastante para deter o sonho de 180 milhôes de cidadãos. A regra é clara, tal qual a vida: enquanto uns choram, outros festejam. Na França, 80 milhôes de habitantes gritam, bebem, cantam e pulam, ao som do hino nacional, devido a grande exibição do maestro de sua seleção de futebol. Por que logo ele de novo? Por quê?
Daqui, meio exausto, ao lado de muitos companheiros e amigos, eu me martirizava por dentro. Mal sabia eu que, os messias do futebol, brincariam com o destino. Parreira, muito criticado, desde o início da Copa, devido ao seu "quadrado mágico", dava um ligeiro sinal de que ouvira o multidão aflita, pedindo por mudança no time. Ao sair a escalação, Adriano estava barrado e, em seu lugar, inesperadamente, entraria Juninho Pernambucano. Um pouco mais atrás, outra surpresa: Gilberto Silva substituiria Emerson. Digamos que, 90% do mínimo ele havia feito. Por outro lado, o nosso mestre das pedaladas, continuava trancafiado pelas certezas incertas do esquema tático de Parreira, o que acarretou na sua permanência na reserva, embora fosse o substituto direto de Adriano. Ou seja, nem 10% do máximo, que o técnico poderia fazer, foi feito.
Começa o jogo. A apatia de partidas anteriores se repete. Tão logo, observamos um Zidane inspirado, pronto à repetir o filme 1998. Com o seu território dominado e sem força ofensiva, o Brasil contava, somente, com a raça de Lúcio e a tranquilidade de Juan. De resto, nada. Houve momentos em que eu pensei que tudo fosse uma estratégia do Parreira, afim de cansar o time francês. Que nada! Eu que, em toda minha vida, me orgulhara de não ter bebido mais que 2 litros de skol, só nesse dia, tomei duas garrafas pequenas. Tudo bem, o refrigerante tinha acabado e não havia água na casa. Não foi o suficiente para me embreagar, porque a insalubridade do time canarinho e a objetividade francesa, me deixava sóbrio e apavorado.
E rola a bola no segundo tempo. Um pouco mais calmo e esperançoso, dou um voto de confiança aos nossos "craques". Todavia, não aconteciam jogadas trabalhadas pelo time brasileiro. O Cafú, com o peso dos seus 34 anos, matava todas os nossos lances de contra-ataque. Nisso, a minha esperança foi morrendo junto com o esquadrão verde-amarelo (ou merde-amerelo, como estampava, no dia seguinte, a capa do jornal argentino, Olé).
Lá vem o ataque francês pela lateral. Numa disputa de bola, Cafú comete falta boba, próximo a entrada da grande área. O nosso carrasco se prepara para a cobrança, ao passo que, os jogadores brasileiros, ficam postados em campo, dando a entender que farão a linha de impedimento. Zidade olha o posicionamento dos jogadores e cruza no segundo pau. A linha de impedimento não funciona e Henry, livre, manda para o fundo das redes. Vendo o replay, reparo o Roberto Carlos (que não é o rei) na mesma posicão em que Napoleão perdeu a guerra. Seria o espírito do conquistador francês baixando no corpo do Roberto? Não. A culpa foi de algo mais material, especificamente, o meião. O nosso "querido" lateral esquerdo, se abaixou, no exato instante em que Zizu se preparava para cobrar a falta e, daquele jeito, permaneceu até o fatídico lance do gol. Iniciou-se, então, o nascimento do protagonista da perda do hexa.
O tal jogo continuou em "banho maria": O Brasil tocava de um lado para o outro, enquanto que a França marcava; o Brasil disperdiçava bolas, enquanto a França contra-atacava de maneira perigosa; O Brasil jogava com displicência e sem comando, enquanto que a França se monstrava com mais raça e equilíbrio tático. Não quero nem comprometer mais o técnico falando de Robinho. Ou melhor, vou falar sim! Todos sabem - acho que até ele sabia - que havia cometido um erro irreversível. O majestoso comandante seguia no equívoco tentando, talvez, numa jogada de sorte da equipe, transformá-lo em acerto. Passaram-se 10, 15, 20 e 25 minutos, mas nada do Robinho entrar. Quando o jogo passava dos 30, Parreira, enfim, decidiu colocá-lo. Pra variar, o menino entrou bem e deu rapidez ao time... mas a França continuava perfeita. Realmente não era o dia do Brasil. Realmente não era a Copa para Brasil. No fim, a falta de ambição do time transformou-se em choro para os espectadores que torciam por nossa seleção. Já os artístas da bola, se contentavam - estampando sorrisos amarelados e tortos - com a vitória da França. Muitos reverenciavam Zinedine Zidane... Outros, sequer, forjavam um choro. De que vale ter os melhores do mundo se o time joga em função da individualidade?
É fato que esta copa entra para história como a maior de todos os tempos. Recordes foram quebrados, principalmente pelo Brasil: nunca, antes, 180 milhões choraram por um time que não valesse 0,01% de seu valor - e tenham certeza de que, ainda assim, é muito dinheiro. Essa copa, também, entra para história como a que teve a seleção mais favorita de todos os tempos que, em compensação, deu o maior exemplo de todos os tempos, de como jogar mal tão bem.
Ps: Só me restou torcer, na semana seguinte por Portugal. Contudo, mais um vez, a minha torcida não funcionou. Porém fiquei feliz. Não pela derrota de Portugal, mas com a maneira a qual os nossos patrícios jogaram. Assim como me entristeci com o Brasil, tampouco por sua derrota, mas pela maneira como NÃO jogaram os nossos representantes.
Até 2010, na África do Sul.