Deflorando lembranças I
Vale o preço. Quem grita esperando o eco, só ouve a décima parte do que queria. Escutar é ação necessária quando a boca fala pelos cotovelos. Ele entra com a mesma roupa de ontem, na sala de espera. Mas não espera ninguém. Deixa a fatia de tempo caminhar suave, sem responsabilidade para aquele espaço físico. Mexe as pernas de um lado para o outro. Está com as mãos nos bolsos de uma calça jeans surrada, recostado na parede. O som das hélices dos ventiladores avisa com rotina: o mundo gira feito roda. Ele não liga. Ficou inerte desde a última vez que sentiu o rosto sensível do mal.
Desencostou da parede, pegou um copo pequeno e sujo que estava na mesa perto da janela e olhou para o reflexo embaçado. Não era por acaso: estranho seria ver uma imagem límpida de alguém que sequer enxerga a si mesmo quando fecha os olhos. Contudo, ele fechou as janelas. O vento que movimentava as cortinas sóbrias de um lugar solitariamente embriagado se chocava com o desejo eólico do ventilador turbulento. O embaço não foi mais visto. Quis não acender as luzes. Fechou as cortinas e cessou a última esperança de luz. Adeus sujeira, adeus calça jeans, adeus parede. Qualquer descrição agora seria mentirosa, pois nada era visível.
Por outro lado, as sensações cresciam, empurrando a mente para um estágio maior de remorso. Sem culpa, ele lutava em silêncio pelos sons que ainda não havia escutado. “Você é muito importante pra mim”, “te amo”, “volte para os meus braços”. Esqueceu-se de lembrar que era vício ter em mente somente virtudes. Recuou dois passos, tropeçou num tapete indiano antigo e viu que não tinha controle sobre as surpresas, afinal, surpresa é surpresa.
Um pequeno corte no joelho não seria o bastante para deixar seqüelas. Costurou para si a última parte de desejo escondido, não aceitou seu próprio sim como resposta, levantou-se e acendeu as luzes. Desligou o ventilador, ouviu uma voz inexistente que insistia em ficar calada. Era a mente num processo de monólogo. Ele persistia, sem controle, sem ação. Retirou a carteira do bolso traseiro da calça, abriu o velcro e pegou uma foto 3X4. Era a única foto da menina-mulher que jamais havia lhe dito um “oi.”
Uma vez, andando pelas ruas, sentiu a respiração paralisando sua linha de raciocínio. Foi um estalo que ecoou. Não sabia o nome dela, nem quem era de verdade. Mas tinha a certeza de que aquela respiração se repetia, multiplicava na sua cabeça. Era aquilo que ele queria. E querer não é poder. Por que o vento o fazia lembrar? Por que o silêncio se comunicava com ele, como se este fosse a voz ininterrupta dela? Por que matar alguém e roubar a foto 3X4 para saciar um desejo obscuro e pessoal? Não havia corpo, não existiam indícios. Decidiu tomar a decisão mais dolorosa e menos cruel dos últimos dias: rasgou o retrato. Decerto, a imagem era a única fonte de medo e esperança que poderia existir. Não queria admitir que os sons dos gritos e do choro eram as únicas coisas que ele havia dito. Não queria tê-la enforcado, não queria estuprá-la. Mas o fez sem motivo aparente, vilipendiado pelo instinto e egoísmo de ter pra si o que não lhe pertence. Ligou o ventilador outra vez e deixou que o vento espalhasse os pedaços do retrato que ele acabara de rasgar. Os ecos dos ecos pararam. Era o fim.
35 comentários:
olá ^^
tbm faz mto tempo que não venho visitar seu blog... agora estou sem net, ai fica dificil ver na faculdade... =/
achei triste esse conto... não sei defini-lo de outra forma...
bjuuus
vou procurar arranjar tempo pra ler blogs xD
ainda bem que as férias estão chegando!
gostei!
mas forte esse texto!!!!
beijos
boa semana
Estava com saudades de vir aqui.
E do seu jeito único de escrever.
O tema e a organização das palavras tornaram o texto envolvente.
A história poderia continuar.
=)
Beijãão pra você Paulo.
Estava com saudades de vir aqui.
E do seu jeito único de escrever.
O tema e a organização das palavras tornaram o texto envolvente.
A história poderia continuar.
=)
Beijãão pra você Paulo.
Quanto tempo!
A fim de me desculpar pelo lonqo sumiço que tive, cá estou. =)
Muito Bom!, de verdade. Um texto um tanto quanto triste, mas envolvente e Impressionante.
Adorei =), mais uma Vez! =)
Beijos,
Anninha Avelheda
P.S.: Você também não aparece no meu há um tempinho, não é mesmo?! ;)
Longo*
Ecos...
Boa, esse texto disse muita coisa =)
Gostei, muito.
Oie Paulo! Um conto intenso, triste, mas muito bom! Concordo que poderia ter continuidade.
Fique com Deus! Que sua semana seja feliz!
Beijos
Daqueles contos que nos prendem e dos quais queremos saber o desfecho rapidamente!
Forte, dos que nos fazem pensar em algumas coisas além-texto!!
Gosto deste tipo de escrita!
Beijo.
nooooooooossa!!!!
vc sempre escreve assim????
Muito bom.
Um dos grandes escritores que eu conheço, definitivamente. Você tem futuro, meu caro. Corra atrás.
Estou tão triste com o nosso Onabru paradinho, paradinho. :(
Beijo meu.
Todos votam pela continuação do conto.
Intenso, instigante...
um grande beijo
Os ecos dos ecos pararam...
Forte e convidativo.
Deixo-te bjs amigo, querendo mais.
Bjs
"Decidiu tomar a decisão mais dolorosa e menos cruel dos últimos dias: rasgou o retrato."
Rasgo um retrato todos os dias para poder me livrar da dor, a dor de não mais poder controlar a "vida".
Abração
Vim retribuir a visita. Este conto prendeu-me do princípio ao fim. Muito bem escrito, com uma carga intensa de emoção. A surpresa! A característica psicológica da personagem... tudo está aqui! Parabéns!
Beijos
texto 1 pouco triste, mas mt ebm conseguido...
beijinhos
pô paulo, de novo? segunda vez que você pensa que eu sou mulher...
blz que o apelido "Duda" é ambíguo, mas eu já tinha te explicado...
e ainda me chamou de "querida" eaehaueh
de qualquer forma, valeu pelos elogios ao blog... :D
abraços
Adoro texto melancólicos. Ainda mais quando eles carregam uma forte dose poética.
Muito bem escrito. Gostei, gostei, e gostei!
Voltarei para ler você com mais clama.
Beijo.
Grande texto companheiro!
Abraço
Olá,
Obrigada pela visita e pelas palavras. Fico feliz que tenhas gostado.
Voltarei com calma pra te ler. Posso?
Um beijo.
Nossa... quanta inspiração... tudo bem que muito denso para aminha pessoa, mas muito bem elaborado.
Interessante...
deixo um prémio para ti lá no meu canto!
Espero que curtas
Grande abraço!
Quem grita esperando o eco, só ouve a décima parte do que queria. Gostei deste trecho. Texto sensível e intimista. Merece uma revisão para torná-lo mais sofisticado. Eu evitaria, por exemplo, começar frases com verbo, tipo Desencostou da parede...ou Ligou o ventilador. Conhece Caio Fernando Abreu?
gd ab e ot semana
Nossa!!!
Tão chocante!!!
Como sera o proximo?
Meus parabens...como sempre...
Beijinhos meu amor...
olá
td ok?
tem poesia em 0posmoderno.wordpress.com
e mta coisa no blogalização
adoro teu blog
Só agora tive tempo de passar aqui, deixar um abraço e escrever. Isso não quer dizer que não tenho vindo ler-te. É a correria do cotidiano que não me dá lacuna para discorrer minhas letras em seu espaço.
Abração
Brunø
Passando para deixar aqui um beijo com carinho amigo.
Bjs
Passando para te desejar um Feliz Natal. Deixar-te um beijo amigo e bons desejos para 2008.
Bjs
Oie Paulo, passando para lhe desejar um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo!
Beijos
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OH OH OH OH OH
Votos de 1 Santo e Feliz Natal...
Que 2008 seja de muita luz, muita paz, saúde e prosperidade! Que Deus abençoe seu lar e família!
Beijos
Oie Paulo! Passei para lhe ver e deixei beijinhos...
Nua e crua msm
Qdo puder passa no meu
Espero sua visita
Pensei que tivesse dito que iria voltar. Saudades, moço.
Tem um prêmio pra ti lá no blog. O "escritores da liberdade". Pega lá.
E não esquece do Onabru.
Beijo meu.
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