sábado, 5 de maio de 2007

Estação Central

Esse trem faz um trajeto comum pelos trilhos finitos da ferrovia. O vento do norte, cortando o alumínio que encobre a parte externa do veículo, desaparece no primeiro vácuo. As mãos desunidas tentam se agarrar nos ferros que balançam. É a inércia prevalecendo, levando-os de um lado para o outro e fazendo com que voltem ao mesmo lugar. Na parte de fora, paisagens nascem, somem, pedem auxílio, reclamam desdém. Entretanto, é necessário que o trem continue o percurso. Tem gente esperando na próxima parada.
Existem aqueles que teimam em se preocupar com o que acontece do outro lado. Coitadinhos. Não adianta tentar puxar a cordinha ou disparar o alarme de emergência que faz o trem estacionar. Só resta a eles olhar a paisagem, ver as desgraças e alegrias, sem participar de nada. São espectadores que não possuem o direito de interagir, por mais que dê aquela vontadezinha de penetrar na vida alheia.
Enfim, chegam à Central. Os muitos passos se multiplicam, ecoam no solo fértil e febril da cidade. A correnteza de pensamentos segue pela contramão: todos querem voltar – o quanto antes - para a nascente, mas nenhum deles sabe o caminho. Sobrou apenas o vagão, inerte a tudo isso. As horas se esvaem pelos ponteiros mais calmos e apressados.
Na plataforma, algumas oportunidades desperdiçadas, sonhos que nunca se realizarão e a tal esperança que, realmente, nunca morre – porque quem morre é você. O intervalo está terminando. A locutora oficial da estação já vai fazer sua chamada: “trem da Central com destino à...”. Embora a voz seja bem clara e suave, outros afazeres a tornam inaudível. Contudo, é sabido que não se pode deixar escapar a chance de entrar no trem e voltar pra casa, pois o descanso é precioso e necessário. Amanhã, caso o galo não cante bem cedo, é capaz da ferrovia estar vazia, sem aquele trem, porque ele não tem a obrigação de esperar. Se no vagão é possível ver a vida dos outros, fora dele, a sua vida se torna a dos outros. Então, não perca a hora: o seu centro não é a Central; é a Central que é o seu centro.

23 comentários:

luafeiticeira disse...

O prémio está atribuido no meu blog, pode ser que da próxima ganhes tu e te ofereça um a ti. jocas

Anônimo disse...

Estação central de muita gente no entra e sai de samba, entra e sai de trabalho, entra e sai de sobrevivência, centro de luta, trem da vida!
lindo findi querido
beijosssssssss

Bárbara Lemos disse...

Ah, Paulo! Cada novo texto teu que leio me torno mais tua fã. Você tem um poder surreal de narrar fatos, deixa-nos totalmente dentro da cena.
Não por que (e dessa vez não sei mesmo) lembrei-me dos judeus a caminho dos campos de concentração nazista.

Bisous.

Anônimo disse...

OLÁ PAULO!!! TUDO BEM!!! QUE BO QUE GOSTASTES DOS MEUS POEMAS,
FICO MUITO FELIZ, SEUS TEXTOS SÃO MAGNÍFICOS, SURREAIS, INSTROSPECTIVOS, ATIGEM DIRETAMENTE O MEU ESPECTRO!!!
AQUI COM CERTEZA NASCE UM GRANDE E ETERNA AMIZADE!!!
BEIJOS CARINHOSOS E DOCES DE POESIA, RAQUEL KEKA
HTTP://KEKA-DAN.MYBLOG.COM.BR

Ly disse...

Adoro te ler...nem sempre os trilhos são retas ou bifurcações, as vezes são apenas meios de conduzir aquilo que já não tem remédio...e ao cruzarmos nas estações com quem chega e com quem sai, estamos definindo novos trilhos para a novas embarcações....

Obrigada pela visita, e não é que me falta papas na língua amigo lindo....Mas alguns momentos temos que falar, ter compromisso sério com a nossa existencia de dizer o que o penso e sinto....Talvez se voltar ao blog tenha um surto com a última postagem....mas a gente tem q falar, ou os outros sempre vão achar que podem dizerm o que querem diante das nossas omissões

beijus
super semana

Ly

Anônimo disse...

Dia da mae é :
O viver da resistençia
é ser sàbio e carente
é desbravar o caminho
é manter o olhar atento
entender cada momento
e nao sentir-se sozinho.

..Feliz dia da mae..

Anônimo disse...

Não li direito. Nunca gostei de trem e passei a gostar menos ainda quando passei a ser obrigada a pegá-lo às 6:30 da manhã pra ir pra faculdade... Não vejo nada de poético em viagens de trem.
Mas você escreveu muito bem, como sempre. Pelo menos as coisas que eu consegui prestar atenção.

Mais um comentário viu. :P

Beijão*

Caroline disse...

Estação Central é o universo de muitos rostos e histórias. Cada pessoa que entra e sai de um vagão, carrega uma bagagem de vida.

belo texto e narrativa!

raposoluana disse...

que lindo esse teu blog, algo tão bunitinho, cores harmoniosas, tudo tão organizado, pena que não sei fazer essas coisas! OAJASDAOISDOISD


e em questão ao meu sofrimento em ser flamenguista, hoje eu não sofri, pelo menos hoje não! kkkkkkkkkkkkkkkk


:*** obrigada pela visita!


e que texto hein?
me deu vontade de andar de trem!
ajsidoasdoijasoidasd

Aju disse...

Mto bom o texto nunca fui nesta central e nunca andei de trem hahahha

[]´s

Anônimo disse...

Teu texto me fez lembrar a música do Milton Nascimento,Encontros e Despedidas, "A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar", o dia a dia de cada um, de cada história.
P.S. Ainda com a patinha quebrada? Qdo estiver bom me avise... Vamos voar juntos... Rsrsrsrs
Uma semana repleta de luz e paz.
Beijos

Masturbatrix disse...

Giro!
Coisas perdidas reencontradas aqui num molho das palavras...
Deu para sentir os tempos das minhas viagens em comboio (trem aí desse lado do mar)...

Obrigado pelas "polaroids mentais"

Abraço daqui!

Anônimo disse...

Acho profundo demais. Se bem q me remeteu a uma música de Chico Buarque, da qual não me lembro o nome agora.
Mas q trata nossas vidas como a de passageiros a embarcar e desembarcar, fantasiados de pessoas, profissionais...

Bruno Cazonatti disse...

E nem sempre os trilhos nos conduzem à direção exata...

Belo texto, meu caro
Um abraço
Brunø

Anônimo disse...

E após ler o seu texto reflito sobre o trem, a minha vida e a central ...

Você já assistiu o filme "Trem da Vida?"

Muito bom!

Anônimo disse...

Gosto tanto de trem, quanto de metro, se puder vou de ônibus...mas fiquei lembrando de tantos rostos, histórias, momentos que passei em trens que peguei na vida (e foram muitos viu).

Obrigada pelo carinho, sabe que nunca li o kama sutra? ahhhh, mas vi o filme - muito bom por sinal, eu recomendo!!!

Um beijão e linda semana!

KahSilva disse...

Nossa, que delicia de texto.Me senti dentro do vagão, olhando a vida passar.parabéns!!Um beijo e uma semana linda!!

Jô Beckman disse...

gosto de viagens de trem, principalmnete qod estão amsi vazios hehehe
abraço

dän disse...

vim te ler...

Moura ao Luar disse...

Beijo beijo beijo

Anônimo disse...

Olá Amigo! Obrigado pelo elogio a minha poesia.Adorei seu texto, me reportou a tempos passados onde eu era feliz e não sabia rsrsrs.Estou fazendo 10.000 visitas, sei que não usa colocar selinhos aqui, maisvá me dar parabéns rsrsrs, cara de pau né rsrsrsrs...Tenha uma ótima semaninha tá...bjos

Poeta da Meia-Noite disse...

Tenho minhas dúvidas quanto a você ter pensado isso em meio à multidão do Centro da Cidade. =S
Maravilhoso o Texto.
Beijos Imensos, Amigo

Anônimo disse...

A cada vez que percorro seu blog me surpreendo com seus post. Voc~e me parece ser tão diferente.
Sabe outra pessoa. Talvez para você isso seje bom. Ou será que você se esconda por detrás das palavras?
Se cuida!@!!
Beijos...