sábado, 14 de abril de 2007

Balanço e gravidade

Empurra o BALANÇO da criança na praça. Ela vai e volta, SORRINDO e pedindo mais. A gente repete o movimento, levando Aninha (a criança) outra vez ao céu, enquanto a GRAVIDADE a trás de volta para a terra. É um pêndulo que termina o ciclo sozinho. Depois de um tempo, a criança não precisa mais de ajuda, ela já consegue buscar IMPULSO SOZINHA - voa e pousa sem que ninguém a impulsione. A companhia é apenas aquele velho balanço, CONSTRUÍDO PELA PREFEITURA, numa época em que a eleição se aproximava.

O outono passou e mais uma eleição estaria por vir. A falta de emprego, a comida que não chegava à mesa: tal miséria estava disposta em não pedir dispensa. No vai e vem da vida, a própria vida de Samuel resolveu servir de BALANÇO. Ele se equilibrava da maneira que podia. Tentou durante muito tempo pedir ajuda, um emprego, um curso. Mas os governantes não estavam atentos para a GRAVIDADE do problema. Aliás, em todos os sentidos, gravidade acaba sendo tudo aquilo que nos empurra para baixo, que nos diminui em nossa insignificância.
Cansado de tentar se BALANÇAR SOZINHO, Samuel SORRIU da situação, arranjou uma arma no morro e foi viver de assaltos. Durante alguns meses, a nova profissão deu certo. Foram cinco assaltos realizados com sucesso. No sexto, resolveram parar o balanço de Samuel. Próximo a uma praça, enquanto praticava o crime, o nosso personagem foi surpreendido por policiais. O tiroteio era inevitável e Samuel teve o seu caminho selado: quatro tiros (um na cabeça, dois na altura do peito e um na mão esquerda). Mesmo assim, muitas balas não o atingiram, assim como nenhum de seus tiros havia atingido os policiais. As munições ficaram a mercê da gravidade e, uma delas – que tinha passado de raspão quando Samuel ainda estava vivo – achou o seu destino num BALANÇO CONSTRUÍDO PELA PREFEITUTA, o qual Aninha brincava.

No dia seguinte, para duas famílias, não havia mais balanços, mais sorrisos, mais fome. Apenas a gravidade permanecia intacta, puxando para baixo todas as coisas e pessoas que resolvessem ir contra a sua lei.

18 comentários:

Poeta da Meia-Noite disse...

Primeiríssima! o/
Paradoxal tudo isso. Como um balanço pode funcionar e outro [o da vida] ser eternamente gerido pela Gravidade. Aliás, a vida é um longo balanço. Balanço pra fugir da Gravidade que nos impulsina, SEMPRE - SEMPRE - SEMPRE, para o fundo do poço.
=>Muito bom o seu texto. [Óóóóó =)]
Beijinhos!!

KahSilva disse...

É a gravidade da vida, constantemente a nos empurrar prá baixo, é nosso balanço constante, que nos impulsiona prá cima,no fim o que vence?Gravidade ou Balanço?
Muito bom teu conto, triste, mas bem escrito.obrigado pela visita,a minha será constante por aqui, pois adorei ler-te.Um domingo radiante!!!!

Anônimo disse...

Duro, porém, mais real do que nunca. Gostei do jogo de palavras que você utilizou no texto, mocinho.

ps: então eu chego aqui imaginando uns trinta anos, no mínimo, para quem havia deixado o comentário no meu blog e, olhe você... vinte! e, bem, sobre utilizar o teto... é um caso a se pensar =)

=*

Anônimo disse...

Nossa... O que mexendo com sua cabeça. Aliás com as das pessoas. Estamos a mêrcer de tudo e de todos.
Texto relatado de uma maneira precisa.
Gostei muito do texto, como sempre Maravilhoso...
Meu jornalista predileto...
Te amo!!!
Beijinhos...

Aju disse...

Cara muito bom, é o paradoxo do mundo e da vida...

Obrigado pela visita mto bom teu blog vou sempre ta por aki...

[]´s

Elza disse...

Muito legal o texto, da ótimas interpretações.
=]

Juliana Marchioretto disse...

oi, gostei daqui.
obrigada pela visita..

=)

Zeze disse...

Olá
Passei para ler este teu "Balanço" e para dizer que tenho lá um post novo que deves gostar,porque tb dá para Balançar...

Um Abraço

Bárbara Lemos disse...

Como sempre, um ótimo texto. Triste, mas pertinente.

Desculpa, tô em dívida com vocês do onabru, já deveria ter postado faz tempo. Simplesmente não ando com a cabeça muito boa. Desculpa mesmo.

Anônimo disse...

A vida como ela é!
Diria o saudoso Nelson Rodrigues.

Bruno Cazonatti disse...

Balançou bem, hein? Muito bom!

Sds,
Bruno

Flávia disse...

para vc ver q toda história pode ter um segundo ponto de vista...até mesmo um assalto!
Gostei do post! :)
Boa noite!

Anônimo disse...

lindo o texto! parei aqui por acaso :)

a verdade é que apesar de detestar física eu sempre fui fã da gravidade. sério! pode parecer besteira, mas gostava de estudá-la e de imaginar como ela se apresentou derrubando aquela maçã na cabeça de newton e quando crianã imaginar como ela deixava tudo de pé no chão e não voando.
e confesso que por essa ótica eu nunca a vi.. adorei.

:)
beijo.

MentesSueltas disse...

Dejo un abrazo desde Buenos Aires.

MentesSueltas

Anônimo disse...

ola paulo ! passei para desejar uma boa semana cheia de tudo que é bom ! ando um pouco sem tempinho mas...estarei sempre que poder aqui no seu cantinho maravilhoso ! jocas

AnaLoo disse...

Gostei muito do texto.

Mas não gostei das palavras destacadas. Do destaque em si, quero dizer.

Porque é desnecessário.
As palavras certas se destacam espontaneamente às vistas de um bom leitor.

Acho que minha capacidade de interpretação textual se sentiu um pouco ofendida.

PS: Me identifiquei com o diálogo do texto anterior. Muito bom, indeed. :)

Thiago Kuerques disse...

Poderia tambem ser a teoria da relatividade?
Quando cismamos em subir a gravidade faz é descer. Era pra deixar todo mundo igual. Na mesma base. Mas uns ficaram mais altos. Outros criaram e subiram em degraus. E uns criaram armas. Que machucam sem reparar na gravidade. Se reparassem, cairíam antes de chegar em alguém.
Triste...

Obscuri Nimbus disse...

Pois é.. o mundo da muitas voltas nao é mesmo? Seria a tal teoria do Caos em que o bater de asas de uma borboleta do outro lado do mundo acarretaria nos furacoes no lado oposto...

Voce escreve de forma fantastica..!! Devo dizer que estou apaixonada por suas palavras..!

Ate!