Sem Z
Na matemática, Z representa o conjunto dos números inteiros.
Aqueles malditos homens, inventores do alfabeto que conhecemos hoje, foram muito charlatões ao colocarem um sentido ao símbolo “Z”. Ser o ultimo, em muitos casos, não é ruim. Entretanto, quando estamos falando de toda uma possibilidade de linguagens e conquistas, acredito, sem nenhum medo, que a letra em questão veio para não ficar. Vejam os exemplos claros: paZ, xadreZ, Zarabatana, Zaga, Zona, ZeZé di Camargo... enfim, todas essas palavras não caíram no gosto do povo, exceto Zona. Quem sabe não poderíamos construir um mundo melhor para os nossos filhos se a letra “Z” fosse definitivamente abolida do nosso dia-a-dia? Tenho plena convicção do que estou falando, porque, pouco a pouco, a minha teoria se confirma. Normalmente, algumas das principais palavras que se iniciam com a letra “Z” são invariavelmente substituídas por seus sinônimos. Observem:
Opção descartada: Você é muito Zureta da cabeça.
Opção utiliZada: Você é muito maluco/doido da cabeça.
Opção descartada: Estou Zangado contigo.
Opção utiliZada: Estou irritado/puto contigo.
Opção descartada: Por que você está Zombando dele?
Opção utiliZada: Por que você está caçoando/Zoando dele?
Opção descartada: Vamos Zarpar, marujos!
Opção utiliZada: Vamos levantar âncora, marujos!
Os exemplos existem aos montes. Pensem bem: um texto não perde a sua essência quando se tira a letra “Z” dele. Agora, vá tirar a letra “R” ou “S”... PutZ, o seu texto morre, ou fica cambaleando a ponto de perder a respiração. Uma veZ, alguém me disse que o melhor texto já escrito, foi aquele que utiliZou todas as letras em poucas palavras. Concordo. Porém, a nossa vida não seria mais fácil se ao invés de 23 letras o alfabeto possuísse apenas 22? Teríamos uma oportunidade, um pouco maior, de inserirmos todas as letras numa só crônica, ou numa só poesia. Mas deixo de pensar nessa alternativa quando, relendo o que ouvi, descubro que ela me foi dita de forma figurada. Voltando a discussão inicial, não me vem a mente, nenhuma palavra, primordial para a existência humana, que possua o “Z” como seu alicerce. Até mesmo no sexo, não existe nada que remeta a essa tal letra, senão goZa – essa vale a pena ser lembrada. Poxa, se o nosso vocabulário fosse uma democracia, essas coisas não aconteceriam. Então – por que não? – acabarmos de veZ com essa maldita invenção do homem.
Z é a vigésima terceira letra do nosso alfabeto
Zumbi, Zé, Zum Zum, Zuzir, Zunido, Zumbido, Zacarias – esse ultimo já faleceu.
Essas palavras fariam falta ao nosso vocabulário? Nenhuma, vos digo! O único porém, neste caso, seria o desaparecimento de alguns jogadores de futebol, assim como o sumiço de apelidos infames: Zé Maria, Zé Elias, Zé Roberto, Zé Luís e... Zé ninguém, Zé rolha, Zé povinho... São inúmeras as razões para eu e você virarmos as costas para essa letra que deturpa toda a volúpia de uma gente que quer falar mais, ganhar mais, sorrir mais. Aí, diante de toda essa briga, aparentemente inútil, me vem aquele velho principio que rege o mundo. Uns chamam de ação e reação. Outros de bem e mal. Por veZes, ouvimos, céu e terra. Porém tem gente que prefere o fogo e a água. Tendo a dualidade como opositora à meus argumentos sobre a extinção da letra “Z”, em silêncio, me rendo. Pelo que parece, a oposição que rege a minha vida, é mais simples e, ao mesmo tempo, ingrata comigo mesmo: Enquanto uns são “+” e “-“ ou amor e ódio, descubro, para a agonia de meu texto, que sou “A” e “Z”... e, embora tente, não posso mudar isso.