domingo, 23 de novembro de 2008

Toque divino

A porta entreaberta denunciava o que estaria por vir. Tocou lentamente nos mamilos, deixando os dedos anelar e médio contornarem a aureola dos seios. Era um costume antigo. Desnuda diante de si mesma, ela sentia-se bem. Enquanto tocava-se imaginando não imaginar nada, absorvia uma cumplicidade divina emanada pelo silêncio. Mas a porta rangeu.

O vento estragara a possibilidade de um deleite ainda mais profundo na frente do espelho. Os pêlos arrepiados pelo auto prazer reverenciavam, aos poucos, a pele sedosa que protegiam. Laura fechou a porta e a trancou pelo lado de dentro.

A calcinha vermelha estava bem confortável. Os detalhes em miçangas e um bordado especial nas extremidades do tecido davam um toque de requinte ao que se bastava.

Havia fogo escapando pelas dobrinhas da virilha. Laura abaixou-se vagarosamente, empurrando sua calcinha para o chão. Dava pra ver uma sombra embaçada de seu rosto pelo anel folheado a ouro que tinha no dedão da mão esquerda. Ela era destra. Usou as duas mãos para facilitar a retirada da veste íntima que cobria sua delicada buceta. O clitóris extrovertido refletia o que Laura sentia interiormente. O fogo alastrou-se.

Uma parte do sofá estava ocupada por objetos velhos que tinham sido remexidos no dia anterior. Ela jogou tudo em cima da mesa de centro, sentou-se afastando as pernas o suficiente para que o dedo indicador pudesse ter a liberdade na região do períneo. Estava esticada, mas não muito. Não apagou nenhuma luz, tampouco as chamas de si. Ao mesmo tempo em que experimentava o tato do prazer materializado em líquidos claros e consistentes, puxava o próprio cabelo, de maneira suave, punindo-se pelo desejo do orgasmo solitário. O dedo indicador entrou fácil no cú, auxiliado pela lubrificação natural que escorria aos mililitros de seu sexo. Pôs o segundo dedo no ânus. Ousou o terceiro. Desistiu.

As cortinas iam de um lado para o outro. O vento que soprara rangendo a porta dança, ao passo que Laura faz-se de violão: dedilha e escorrega, onde as notas musicais são expressas pelos gemidos tímidos em lá menor. Todo o corpo reage ao testemunhar seu momento sublime. Ela abriu mais as pernas para facilitar a penetração do dedo médio da mão direita na xota. Roubando o lugar de um homem, os suores percorriam os peitos suculentos e rebolavam sobre as curvas dela. Contração total dos músculos: cruzou as pernas tentando prender pra si todo o gozo do qual fugia há anos. Não conseguiu. Ela sujou muito mais do que a mão direita e os dedos anelar, médio e indicador. Haviam gotículas espalhadas pelo sofá. Fora de si, ela continuava lá. Mas a inocência não estava mais nela.

Entorpecida por todo o ocorrido, Laura levantou-se assustada, pegou o terço guardado em sua bolsa e pediu desculpas através de pensamentos. Ela não tinha lembrado de lavar as mãos. Logo depois tomou o banho mais leve de sua vida, colocou a mesma calcinha vermelha que usara antes da masturbação, pôs um vestido comprido por cima e foi para a igreja confessar-se. Ela era muito religiosa. E ainda é.