quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Dia comum

“Por que aquele monte de gente tá ali?”, pensei quando estava no caminho da faculdade. Seguindo os rastros daquela multidão, cheguei ao que provocava a muvuca: um corpo estendido no asfalto, coberto por sangue, que percorria o rosto inchado e servia como alimento para algumas moscas. Embora apodrecendo ao sol de 35º, o cadáver mantia-se firme, com os olhos abertos. Ainda embriagado com a poça de sangue – que refletia a face do povo curioso -, resolvi perguntar o que acontecera à um transeunte:
- Pô bicho, o que rolou ali? – perguntei.
- Acho que foi um motoboy que tava passando na hora do tiroteio e aí foi confundido com bandido.
- Hum... é foda, né?
- Cê vê. A gente não pode nem trabalhar tranqüilo mais.
Dei uma olhada no relógio – estava atrasado -, pedi desculpas para uma mulher em que eu havia esbarrado e direcionei a minha atenção para o moribundo novamente. Tudo bem, o cara não teve culpa na história, mas, infelizmente, estava no lugar errado e na hora errada.
Num determinado momento, imaginei o que a mãe dele sentiria ao vê-lo jogado, apagado, simplesmente morto. Provavelmente as lágrimas da coroa juntariam-se ao sangue no chão, dobrando, talvez, o volume daquela poça. Quiçá até aconteceriam manifestações envolvendo amigos e familiares do tipo: “Queremos justiça!” ou “Mais um inocente assassinado!”. Porém não dava para ficar pensando mais sobre esse caso. A minha aula já começara, ao passo que eu permanecia ali. Virei-me de costas e, assim como muitos trabalhadores que estavam no local, fui para o meu primeiro destino, assassinando, de vez, a minha curiosidade.

5 comentários:

Thiago Kuerques disse...

Náuseas!

Acabei de ler um artigo de um colunista do jornal O POVO com uma pitada de Paulo Fernando. Mas foi interessante, afinal despertar sensações é a tarefa de quem escreve por prazer.
Acabei de atualizar la. Abraço

Anônimo disse...

Putz... Para que um texto tão complicada?
Para confundi de vez sua amada, com palavras, nunca vista por mim e pela a maioria das pessoas, que aqui passaram...
Mas, como bom jornalista eu admiro o seu texto, que foi inscrito muito bem.
Ja o texto, ele contém a veracidade, da vida de um brasileiro. (isso voce soube retradar muito bem, saiba que sou sua grande fã).
Bjoks...

Anônimo disse...

Já tive momentos assim!
Sei mais ou menos como é esse tipo de experiencia.

Abraços

Gisa Leão disse...

Sadismo ao olhar!
eh cada vez maior o número de episódios como este por aí. Num ônibus por exemplo, todos se levantam de seus lugares soh para ter o prazer de ver...
ou não. mas tentam. e comentam. e esperam o próximo.


bjo pa tu!

Anônimo disse...

TD BEM QUE POR MAIS QUE ME ESFORCE PARA EVITAR A MINHA MASSA ENCEFÁLICA COLIDE CONSTANTEMENTE COM MINHA MENINGE.ISSO FAZ COM QUE NÃO ENTENDA AS COISAS MUITO BEM. FAZENDO UMA ANÁLISE MUITO- E BOTA MUITO NISSO- SUPERFICIAL VC TEM TALENTO, CARA.